Hipótese do continuum

A hipótese do continuum é uma conjectura proposta por Georg Cantor. Esta conjectura consiste no seguinte:

Não existe nenhum conjunto com cardinalidade maior que a do conjunto dos números inteiros e menor que a do conjunto dos números reais.

Aqui mais elementos e menos elementos tem um sentido muito preciso (ver número cardinal). Esta hipótese foi o número um dos 23 Problemas de Hilbert apresentados na conferência do Congresso Internacional de Matemática de 1900, o que levou a que fosse estudada profundamente durante o século XX.

Nem verdadeira nem falsa

Cantor acreditava que a conjectura era verdadeira. No entanto:

  • em 1938[1], Kurt Gödel demonstrou que a negação da hipótese do continuum não poderia ser provada a partir dos axiomas de Zermelo-Fraenkel mais escolha, se eles são consistentes.
  • em 1963, Paul Cohen demonstrou que a hipótese do continuum também não poderia ser provada a partir dos mesmos axiomas, se eles são consistentes.

Deste modo a hipótese do continuum é independente dos axiomas de Zermelo-Fraenkel. Esta independência leva alguns matemáticos a considerarem que os axiomas de Zermelo-Fraenkel não são os mais suficientes para resolver problemas significativos da teoria de conjuntos e que deveriam ser considerados axiomas adicionais para tornar esta hipótese verdadeira ou falsa. Em particular, Gödel, apesar de ter demonstrado a sua consistência, considerava a possibilidade de que novos axiomas permitissem refutar a Hipótese do Contínuo[2].

Hipótese do Continuum generalizada

Aleph (א) é uma letra usada para representar cardinais infinitos. A cardinalidade dos conjunto dos números inteiros é 0 {\displaystyle \aleph _{0}} , o cardinal seguinte é 1 {\displaystyle \aleph _{1}} , etc. Usando os números cardinais א, a hipótese do Continuum pode ser escrita como:

1 = 2 0 {\displaystyle \aleph _{1}=2^{\aleph _{0}}}

A generalização desta hipótese (que não pode ser provada a partir dela) é que para qualquer ordinal α {\displaystyle \alpha } :

α + 1 = 2 α {\displaystyle \aleph _{\alpha +1}=2^{\aleph _{\alpha }}}

Um cuidado deve ser observado na fórmula acima: o tratamento de α + 1 usa aritmética ordinal enquanto que o tratamento de 2 α {\displaystyle 2^{\aleph _{\alpha }}\,} usa aritmética cardinal; todo número ordinal é, por definição, um número cardinal, mas a recíproca não é verdadeira.

Cardinalidade do contínuo

Ver artigo principal: Cardinalidade do contínuo

Em ZFC, a teoria dos conjuntos com os axiomas de Zermelo-Fraenkel mais o axioma da escolha, a cardinalidade do contínuo está muito indeterminada. O primeiro resultado negativo foi demonstrado por König, sobre os valores que o contínuo não pode tomar, pois o denominado teorema de König mostra:

Z F C 2 0 ω {\displaystyle \mathbf {ZFC} \vdash 2^{\aleph _{0}}\neq \aleph _{\omega }\,}

O mesmo acontece para outros cardinais de cofinalidade ω {\displaystyle \omega ^{\,}} :

Z F C 2 0 ω + ω {\displaystyle \mathbf {ZFC} \vdash 2^{\aleph _{0}}\neq \aleph _{\omega +\omega }\,}
Z F C 2 0 ω ω {\displaystyle \mathbf {ZFC} \vdash 2^{\aleph _{0}}\neq \aleph _{\omega _{\omega }}\,}


Seja Con ( T ) {\displaystyle {\mbox{Con}}\left(T\right)} o enunciado " T {\displaystyle T^{\,}} é consistente". Como enunciado acima, Gödel demonstrou:

Con ( Z F C ) Con ( Z F C + 2 0 = 1 ) {\displaystyle {\mbox{Con}}\left(\mathbf {ZFC} \right)\Rightarrow {\mbox{Con}}\left(\mathbf {ZFC} +2^{\aleph _{0}}=\aleph _{1}\right)}

Usando forçamento (forcing) os seguintes resultados podem ser demonstrados:

Con ( Z F C ) Con ( Z F C + 2 0 = n ) {\displaystyle {\mbox{Con}}\left(\mathbf {ZFC} \right)\Rightarrow {\mbox{Con}}\left(\mathbf {ZFC} +2^{\aleph _{0}}=\aleph _{n}\right)}

para qualquer n 2 {\displaystyle n\geq 2} . De maneira mais geral, o contínuo pode ser qualquer cardinal regular não enumerável.[3] Por exemplo:

Con ( Z F C ) Con ( Z F C + 2 0 = ω + 42 ) {\displaystyle {\mbox{Con}}\left(\mathbf {ZFC} \right)\Rightarrow {\mbox{Con}}\left(\mathbf {ZFC} +2^{\aleph _{0}}=\aleph _{\omega +42}\right)}
Con ( Z F C ) Con ( Z F C + 2 0 = ω 1 ) {\displaystyle {\mbox{Con}}\left(\mathbf {ZFC} \right)\Rightarrow {\mbox{Con}}\left(\mathbf {ZFC} +2^{\aleph _{0}}=\aleph _{\omega _{1}}\right)}

Se denominarmos WI o enunciado "existe um cardinal fracamente inacessível", então vale[4]:

Con ( Z F C + W I ) Con ( Z F C + `` 2 0 é fracamente inacessível'' ) {\displaystyle {\mbox{Con}}\left(\mathbf {ZFC+WI} \right)\Rightarrow {\mbox{Con}}\left(\mathbf {ZFC} +{\mbox{``}}2^{\aleph _{0}}\;\;{\mbox{é fracamente inacessível''}}\right)}

Referências

  1. Gödel, K., Collected Works: Oxford University Press: New York. Editor-in-chief: Solomon Feferman. Volume II: Publications 1938–1974 ISBN 9780195039726 / Paperback:ISBN 9780195147216, p. 1--101.
  2. Gödel, K., ibid., p. 264.
  3. KUNEN (1980), p. 55 e 281.
  4. Ibid.

Bibliografia

  • KUNEN, Kenneth (1980). Set theory: an introduction to independence proofs (em inglês). Amsterdam: Elsevier. ISBN 0-444-86839-9 


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